O que é lipidômica?
O termo lipidômica se
refere à identificação e quantificação dos lipídios constituintes dos
compartimentos e/ou sub compartimentos celulares, suas mudanças diante de
alterações na célula, além de ser o estudo das interações lipídios-lipídios e
lipídios-proteínas que participam dos processos fisiológicos e
fisiopatológicos.
Essas análises são
realizadas por meio de aplicações de tecnologias analíticas, como a
espectrometria de massas e cromatografia (gasosa ou líquida), que vêm se
tornando cada vez mais utilizadas em pesquisas científicas, na tentativa de
entender as alterações na composição, conteúdo, variação e vias metabólicas que
os lipídios participam. Isso permitirá descobrir novas funções dos lipídios em
processos degenerativos e alvos terapêuticos.
Além disso, a
lipidômica tem também o objetivo de caracterizar e quantificar as moléculas
lipídicas em células e fluidos biológicos, relacionando tais composições com as
análises “ômicas”, como a genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica.
Portanto, essas análises contribuem para o avanço da nutrigenômica e para o
surgimento de novos biomarcadores de diversas doenças, bem como a compreensão
dos mecanismos moleculares.
Confira aqui um dos
exemplos de estudo que realizou análises de lipidômica!
Alimentos modulam
processos inflamatórios no sobrepeso
Estudo revelou que a suplementação de
componentes alimentares com propriedades anti-inflamatórias modula a
inflamação, estresse oxidativo e metabólico de indivíduos com sobrepeso. Estes
efeitos foram detectados por uma abordagem nutrigenômica, através de análise em
larga escala da expressão gênica, proteínas e metabólitos no sangue, urina e
tecido adiposo.
Este foi um trabalho
randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, ensaio clínico cruzado, com
quatro períodos de tratamento de cinco semanas cada. Foram selecionados 36
homens, saudáveis com índice de massa corporal (IMC) entre 25,5 e 35,0 kg/m2, e
baixo grau de inflamação, com concentração de PCR de 1-10 mg/L.
O objetivo foi
investigar os efeitos anti-inflamatórios induzidos pela intervenção nutricional
em homens com sobrepeso, que apresentavam leve aumento das concentrações de
proteína C-reativa (PCR). Portanto, foram suplementados compostos potencialmente
eficazes destinados a atuar na redução da inflamação.
O tecido adiposo é
fundamental para o estado inflamatório associado com a obesidade. Os adipócitos
secretam adipocinas pró e anti-inflamatórias, incluindo o fator de necrose
tumoral-alfa (TNF-alfa), interleucina-6 (IL-6) e adiponectinas
anti-inflamatórias. A redução de adiponectina e aumento da proteína C-reativa
(PCR) estão associados a doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. A
suplementação foi denominada de AIDM (Antiinflammatory Dietary Mix), que
consistiu de óleo de peixe, extrato de chá verde, resveratrol, vitamina E,
vitamina C e extrato de tomate.
Os participantes
consumiram duas cápsulas sólidas e duas cápsulas gelatinosas com 200 ml de
iogurte simples diariamente no café da manhã e na refeição da noite. As
cápsulas sólidas continham: 6,3 mg de resveratrol (dose diária equivalente a 4
L de vinho tinto); extrato de tomate contendo 3,75 mg de licopeno (dose diária
equivalente a 500 ml de suco de tomate); 94,5 mg de extrato de chá verde (40%
de epigalocatequina galato; dose diária equivalente a 300 ml de chá verde);
181,4 UI de alfa-tocoferol (Ingestão Diária Recomendada: 18 UI e o nível máximo
tolerável: 1000 UI); 125 mg de vitamina C (nível máximo tolerável: 2000 mg/d).
As cápsulas gelatinosas continham: 1200 mg de óleo de peixe, sendo 380 mg de
ácido eicosapentaenóico (EPA) e 260 mg de ácido docosahexaenóico (DHA); 60 mg
de outros ácidos graxos poli-insaturados.
PCR e adiponectina
foram os principais marcadores de inflamação mensurados neste estudo. As
concentrações de PCR não foram alteradas com a suplementação de AIDM, enquanto
que as concentrações de adiponectina aumentaram significativamente de 6,03 ±
2,06 mg/L após a intervenção placebo para 6,48 ± 2,57 mg/L após a intervenção
com AIDM (p < 0,05). A redução do estado inflamatório pode prevenir a
ocorrência de distúrbios e doenças relacionadas ao sobrepeso.
Muitos componentes de
alimentos apresentam propriedades anti-inflamatórias e/ou antioxidantes. A
dieta mediterrânia contém vários destes compostos e tem sido associada com
redução de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Esses alimentos contêm
altos teores de polifenóis, vitaminas, ácidos graxos insaturados, e
carotenóides.
Após suplementação com
AIDM houveram mudanças nas respostas relacionadas ao metabolismo lipídico e
doenças metabólicas. A maior parte dessas alterações foi sobre a resposta
inflamatória, estresse oxidativo (produção de espécies reativas de oxigênio), e
o metabolismo lipídico. A rede metabólica construída a partir dos dados
integrados da expressão gênica indicou papel central do efeito do AIDM sobre o
NF-kappaB (fator nuclear kappa B).
A interpretação
biológica dos dados se concentra nestes três processos: inflamação, oxidação e
metabolismo. “Os efeitos leves observados podem ser atribuídos à duração da
intervenção. Apesar das limitações, a nossa abordagem permitiu a detecção de
múltiplos efeitos sobre a saúde através da mistura de componentes dietéticos em
indivíduos com sobrepeso. Além disso, as alterações na expressão de genes,
proteínas e metabólitos induzida pela AIDM pareceram ser consistentes. Isso
pode vir a ser uma vantagem adicional da abordagem nutrigenômica em estudos de
intervenção humana, o que permite a alta sensibilidade na detecção de
alterações fisiológicas múltiplas”, concluem os autores.
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